sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Prison Break {Capítulo 03x16}


Prison Break
3º Temporada

Capítulo 16
O perdão de Mahone


Michael já havia acordado naquela manhã; não dormira bem aquela noite, aliás, não dormira, não piscara um segundo sequer a noite toda, mas apesar disto, o sono parecia não lhe fazer falta naquele momento. Permanecia de pé perto da janela, onde podia ver a rotina diária que os guardas faziam e onde podia pensar sobre a fuga e sobre todo o resto. E de vez enquanto lançava um olhar rápido para a cama de Chuck para ver se ele já estava acordado.
Depois de certo tempo, abaixou os olhos e certificou-se das horas: eram quase nove da manhã. Fez-se esquecer dos guardas e da vista e foi até a cama de Chuck, silenciosamente chamou pelo seu nome e balançou seu braço. Depois de algumas vezes mais o chamando, ele despertou.
Seus cabelos negros e encaracolados estavam ainda mais revirados. Parecia meio perdido como se não soubesse ao certo onde estava; Michael sorriu ao vê-lo daquele jeito, lembrou-se que foram poucas as vezes que ele o acordou: ou eles acordavam quase na mesma hora ou Chuck o acordava.
Chuck jogou o casaco, com o qual estava tapado durante a noite, para o lado e mexeu levemente os cabelos, deixando-os em um estado um pouco melhor.
Enquanto ele se sentava na cama, Michael disse:
-Bom dia.
Chuck sorriu meio de canto e retribuiu:
-Bom dia.
Michael tornou a voltar para a janela e questionou:
-Você acha que consegue alguma coisa para comermos?Hoje é o dia que os guardas mandam as cestas de comida.
-Não sei, mas posso tentar.
Michael consentiu e disse:
-Vamos indo, você sai comigo e depois procura algo para nós comermos, enquanto eu vou ter que levar as pás para o esgoto. Se alguém me pegar é melhor que me pegue sozinho.
Chuck parecia não ter gostado muito da ideia, mas concordou em silêncio. Levantou-se da cama, espreguiçou-se e esperou que Michael dissesse quando poderiam ir. E este permaneceu ali mais alguns minutos, depois olhou no relógio, e consequentemente foi até as grades da cela, olhou o movimento nos corredores e voltou-se para Chuck:
-Acho que podemos ir... Vou esperar você na frente da porta, no esgoto... Ok?
-Ok...
Michael pediu que Chuck cuidasse para que ninguém se aproximasse e foi até a cama, ojoelhou-se e retirou as pás de lá. Deixou-as ainda cobertas pelo pano que as cobrira no dia anterior e seguiu em direção ao corredor. Ultrapassou a linha que separava a cela do corredor, quando Chuck o chamou:
-Hey, Michael...
Michael virou-se e esperou.
-E se eu não conseguir, se alguém me pegar, ou...
Michael se aproximou e disse:
-Hey, você não fez isso tantas vezes?Por que o medo agora?
Chuck olhou para as mãos e disse:
-Sei lá... Talvez você tenha razão, não sei por que eu dizendo isso... Esquece!
Michael olhou para Chuck e se aproximou mais, dizendo:
-Você pode ter medo, isso não é uma coisa anormal e você sabe disso... Mas não pode deixar que isso tome conta de você. Vai dar certo...
Chuck levantou o rosto para Michael e consentiu, depois disse:
-Tome cuidado também.
Michael sorriu e o deixou.
Caminhou rapidamente, passou por alguns homens que o fitavam e fitavam principalmente o embrulho que carregava consigo. Tentou ignorar aqueles olhares e seguiu em frente; em menos de dois minutos já estava diante de Bellick, Charlie e Whistler em frente ao esgoto. Lançou um olhar rápido aos três que o miraram também e caminhou até a porta.
Largou as pás no chão por alguns segundos e levou a mão ao ferro, o puxou e depois de aberta a porta colocou as ferramentas lá dentro, no segundo degrau.
Virou-se para os outros, e disse:
-Então, como foram com o Lechero?
Charlie e Bellick se olharam rapidamente, antes de começarem a falar:
-Nada bem, Michael-disse Charlie.
Michael deu alguns passos, ficando à frente dos dois.
-Então o que ele disse a vocês?
-Ele nos chamou perto do entardecer... Adivinha quem veio até nós, para nos levar até ele? - disse Bellick.
Michael paralisou seu olhar sobre Bellick durante um tempo, depois respondeu sem entusiasmo.
-Não sei, quem?
-T-bag. - respondeu Bellick.

 
Bellick não parecia estar mentindo e Michael detestava ter que admitir isso para si mesmo.
-O que vocês acham que ele está tentando fazer?O que vocês viram? Descobriram?
Charlie tomou a palavra:
-Bom, eu vou lhe contar como as coisas aconteceram...
Michael consentiu e parou para escutar.
-T-bag veio até nós, disse que Lechero estava nos esperando no quarto dele, no andar de cima e que era para nós o acompanharmos. No início Bellick perguntou o que ele fazia obedecendo às ordens do cara e tal, mas ele só dizia que era para o acompanharmos. Fizemos isso, quando chegamos lá, Lechero estava sentado em um dos sofás que há lá dentro e pediu para sentarmos também.
No início ele se mostrou compreensivo, como se estivesse nos prestando ajuda... Fez-nos diversas perguntas e tudo bem calmamente. Enfim, ele sabe que há algo por trás das nossas conversas, ele disse que ele vai descobrir e mandou-nos avisar para você tomar cuidado.
Michael passou a mão sobre o rosto, depois respondeu:
-Não sei, eu ainda não descobri o que esse homem quer. Mas nós não podemos dar bandeira, isto é certo. Mas e o T-Bag?O que vocês sabem dele?
Bellick se aproximou mais de Michael e respondeu:
-Michael se esse cara entrar no nosso caminho, vai dar tudo errado novamente, você sabe muito bem o que aconteceu em todas as outras vezes.
Michael lhe lançou um olhar de reprovação.
-Pois é, eu também me lembro muito bem que das últimas vezes você também me rendeu alguns problemas. Se quer mesmo sair de Sona não diga que T-Bag tem toda a parcela de culpa.
Bellick sustentou o olhar no de Michael e Charlie e Whistler os observavam. Antes que qualquer um pudesse falar, ouviram os passos rápidos de Chuck no início do corredor.
Ele parou ao lado de Michael, que o olhou assustado. Antes que ele pudesse perguntar o que houve, Chuck disse:
-Acho melhor irmos... Vocês não vão querer ficar aqui para ver o que acontece.
Michael lançou um olhar que mesclava repreensão e medo, depois disse:
-Ok, vamos lá.
Charlie, Bellick e Whistler se encaminharam à porta e logo atrás Michael e Chuck fizeram o mesmo.
Michael esperou todos entrarem e fechou a porta ás suas costas. Tateou o chão á procura das pás, depois de pegá-las, distribuiu aos outros. E juntos eles caminharam ao seu destino.
Quando se aproximaram dos destroços do caminho da direita – que Michael julgou ser o mais seguro – largaram as pás sob o chão.
-Todos sabem o que fazer, certo? Passamos todos esses destroços para chão e logo começamos a cavar para cima... Sempre com o cuidado para que não desmorone.
Todos consentiram, e começaram o trabalho árduo.
Trabalharam a tarde toda. Mas ao fim conseguiram se livrar de todos os destroços e então, Michael os comunicou:
-Amanhã, aqui, mesmo horário. Teremos que trabalhar duro e sempre terá que haver alguém aqui nos próximos dias, para cuidar para que nada desabe. De acordo?
Todos concordaram com ele.



Quando voltaram para cela, Chuck ofereceu a comida que conseguiu. Eles comeram em silêncio, logo Chuck caiu de sono ao seu lado. Depois de cavarem a tarde toda, ele não esperava outra coisa. Lentamente, Michael o colocou na cama. Logo, resolveu dar uma caminhada.
Sentia-se vazio, como se muito mais que a vida lhe tivesse sido arrancada. Claro que ainda pensava em seu sobrinho e em tudo o que ele e Lincoln representavam para ele. Mas e se tudo desse certo? E se ele salvasse a todos? O que restaria para ele no fim? Quando a mulher que amava fora arrancada de si da maneira mais cruel que existe? No fim... Restar-lhe-ia dignidade? Ele não sabia dizer, estava perdido na sua própria confusão. Não sabia mais se ele era digno de algo ou de alguém.
Sentiu algo tocar-lhe o ombro. Levantou os olhos: era Mahone.




-Não diga nada. – ele pediu. – Por favor, apenas tente me ouvir.
Michael não sabia o que fazer, então resolveu dar uma chance a Mahone.
Mahone, baixou os olhos pensativo... Então começou a falar:
-Estou a alguns dias limpo, não sei exatamente como consegui... Talvez esse lugar tenha feito algum bem a mim. Estou me mantendo longe da confusão e tentando sobreviver.
Ele deu uma pausa.
-Não quero pedir gratidão, nem perdão... Só quero que você saiba que eu me arrependo de muitas coisas que fiz. Inclusive a você. Eu sei o quão bom você é, Michael. E quando penso no mal que lhe causei, quando penso no mal que eu causei a mim mesmo quando lhe prejudiquei... Penso que foram poucas vezes na vida que me portei com justiça. Essa justiça que a gente vive procurando... Essa justiça que faria bem a todos.
Os dois passaram um longo momento em silêncio. Mahone parecia ainda absorto em sua culpa, Michael parecia absorver aquela confissão toda. De certa forma, o perdão que Mahone não exigia parecia já estar encaminhado no coração dele. E de uma forma muito estranha, os dois estavam mais conectados do que em qualquer outro momento já vivido entre eles.
-Eu soube sobre a Sara... – Mahone olhava ao longe.
-Às vezes é como se essas paredes falassem... – Michael disse.
-Talvez elas falem sim, e talvez a dor das pessoas fale mais alto aqui também.
Michael consentiu. Sentindo aquela dor lhe cutucar, como se estivesse lhe avisando o quão viva ela ainda era dentro dele.
-Michael, quero lhe pedir algo...
Michael consentiu, esperando.
-Eu sei sobre a fuga, não vou contar a ninguém, nem mesmo à Lechero e não quero que pense que eu vim até você só para pedir isso, mas eu não preciso lhe dizer o motivo pelo qual eu quero sair daqui. Ainda existe uma família a quem eu devo proteger.
Eles nutriram um olhar longo. Michael não sabia o que dizer, apesar de tudo não sabia se já era tempo de confiar em Mahone. Respirou fundo e lhe disse:
-Se eu lhe pedisse tempo para pensar, estaria agindo errado?




Mahone riu descontente. Mas consentiu.
-Só não demore muito, não quero perder o último trem de volta para casa.
Os dois compartilharam uma risada. E depois observaram juntos o correio do dia chegar. As pessoas circularam o homem responsável pelas entregas. Vindo do corredor contrário ao que os dois estavam, Michael viu Whistler se aproximar, pegar uma correspondência e vagar para outros lados. Poderia não ser nada, mas Michael jurou que aquilo lhe renderia problemas no futuro.




Lincoln dava passos formando pequenos círculos onde estava. Olhava de tempos em tempos para o relógio, tinha consciência do quanto Sucre estava atrasado para o encontro que eles marcaram. Pensou algumas vezes se por acaso ele não ouvira o lugar errado pelo telefone, mas depois de retomar na mente diversas vezes a conversa que tiveram, ele desistia de pensar que errara na informação. Foi então que ele deixou de esperar.
Seu carro estava do outro lado da praça, então Lincoln atravessou-a a pé. Quando dobrou a esquerda, avistou uma mulher sentada no banco, em frente a um pequeno supermercado. Observou-a e então teve a certeza: era Sofia. Foi inevitável não se aproximar.
Caminhou lentamente em sua direção... Vestia um vestido azul claro, com flores de estampa. E um par de rasteirinhas. Seus cotovelos estavam sob os joelhos e suas mãos escondendo o rosto, que parecia um pouco inchado.
Sentou-se ao seu lado quase sem fazer barulho e tocou seu ombro. Ela levantou o rosto rapidamente: sem dúvida ela havia chorado.
-Lincoln! – ela exclamou num gemido.
-O que houve? – Lincoln a questionou.
Sofia descreveu a sua última visita a Whistler em Sona.




-E ele tinha esse livro... Eu não sei de mais nada, Linc! Quanto mais eu penso, mas vejo que não há verdades nas histórias que ele me conta.
-E o livro, o que ele disse sobre isso?
-Ele disse que aquilo que nos salvaria... Disse que teria de entregar livro às pessoas que querem que Michael o tire de lá e que depois disso estaríamos em paz.
Ela suspirou e continuou:
-Não sei quanto a você, Lincoln, mas eu não vejo como estar em paz depois disso tudo. Em pensar que eu confiei o meu futuro aquele homem... Em pensar que ele me prometeu tanto. Ele me prometeu que me levaria a Paris você sabia? E agora? Só mentiras.
Mas basta! Acabou.
Lincoln deixou suas lágrimas caírem e afagou seu cabelo. Não havia mais o que fazer, ou o que dizer. Apenas a consolou e, no seu íntimo, torceu para que ela um dia o esquecesse.


sexta-feira, 5 de junho de 2009

Sobre Fanfic

 
Queridos leitores, como muitos já devem ter percebido, faz tempo que eu postei o último epi da Fanfic. Quero me desculpar e me explicar: a vida anda agitada! Eu corro para passar os epis para o PC e ainda dar conta de estudar. Então, podem ter certeza que eu estou me dedicando a concluir a terceira temporada do PB, mas só peço que tenham paciência até que eu posso voltar a postar mais regularmente os epis. 

Obrigada por todos aqueles que acompanham e comentam no blog sempre.
Bom final de semana!

sábado, 4 de abril de 2009

Prison Break {Capítulo 03x15}


Prison Break
3º Temporada

Capítulo 15
Aposentos



L. J. tentava respirar naquele armário pequeno e com cheiro de mofo onde foi colocado. Sentia cede e as cordas estavam começando a rasgar a pele de seus pulsos e tornozelos. Estava ali dentro a mais de 10 minutos e conseguia ouvir a conversa que se passava do outro lado da sala, onde Susan e um homem chamado John conversavam com um terceiro homem. Este, L. J, havia visto apenas duas vezes desde que fora preso; ele era mais velho, talvez 50 quase 60 anos, gordo e extremamente pálido, o que lhe dava um ar doentio. Os outros, inclusive Susan, o chamavam de "General", às vezes, de Senhor, mas nunca por um nome de verdade.
No momento, Susan dizia a ele que Michael recebera a notícia. "Quê notícia?", ele pensou. Logo depois conseguiu ouvir o nome de Sara no meio da conversa. Desde o dia em que eles permitiram que ela conversasse com seu tio, ele não a vira mais, Não sabia para onde haviam levado, nem o que fizeram com ela.
Tentou arrastar a cadeira com a força do corpo para mais perto da porta e encostou o rosto para poder ouvi-los. General dizia:
"Ela é a única forma de o mantermos seguindo às ordens, O amor torna as pessoas tolas em demasia, e como se trata de Scofield, vamos usar a única oportunidade que temos de conseguirmos arrancar algo dele. Então, diante disso, ela continua como está, John continua cuidando do garoto e você, Susan se encarrega de dar ordens a Charlie, dos encontros com Lincoln e de todo o resto. No devido tempo, e sem muitos esforços, conseguiremos Whistler de volta. E quem sabe, alguém mais que queira nos prestar a sua inteligência."
L. J. ouviu Susan murmurar algo. Depois General completou:
"Agora, levem-nos para comer algo e quem sabe um banho também. E não esqueça, mantenham-nos separados até segunda ordem."
L, J. ouviu Susan dizer que ela cuidaria de Sara e que o garoto era obrigação de John.
L. J. desaproximou-se da porta. Uma onda de ódio e fúria se rebelou dentro dele; em um ato impensado ele começou a chutar a porta e a gritar.
Susan caminhou rapidamente até onde ele estava e escancarou a porta. Ele silenciou por um momento, mas depois da forma agressiva com que Susan o bateu e mandou calar a boca, ele continuou aos berros:
-Me solta!Eu quero sair daqui... Onde está a Sara?O que vocês fizeram com ela?
Susan não deu atenção ao que ouvia. Rapidamente retirou as cordas dos pulsos e tornozelos de L. J., com um movimento só o pôs em pé, segurando-o pelos ombros.
-Me larga, sua vadia!
Susan enfureceu-se e o empurrou contra a parede.
-Se você não calar a boca, você nem terá mais a chance de respirar, não vai poder ver o seu pai, nem o seu tio, muito menos a titia Sara, ok?É melhor você acalmar os seus nervos.
L. J. calou-se e tentou acalmar a respiração descontrolada que não cessava. Susan ainda o segurava firme contra a parede. Tinha vontade de lhe cuspir na cara, mas pensou melhor e sabia que não seria de ajuda tentar bancar mais uma vez o valente.
Sentiu Susan o empurrar para fora do armário. Ele olhou em volta: a luz na sala estava extremamente clara e seus olhos arderam num primeiro contato. Havia uma mesa de venil, não muito grande, no centro da sala, e atrás dela uma cadeira preta onde General estava sentado. Nada mais, não havia janelas, não havia nenhuma outra mobília, e as paredes eram cinza, sem vida.
Enfim, eram os quatro encarando uns aos outros, John fez questão de ser o primeiro a manifestar-se. Virou-se para o General e disse:
-Vou levá-lo para o outro quarto, senhor.
General consentiu sem demonstrar emoção.
John, um homem de poucas emoções também, caminhou até L. J. e o segurou. Antes que esse o retirasse da sala, ele conseguiu ouvir as últimas palavras de Susan:
-E quanto a Peter, senhor?O que faremos com ele?
Depois, o silêncio. John já havia fechado a porta às costas dos dois.


Michael abriu os olhos e espreguiçou-se. Sentiu o corpo lhe denunciar uma dor profunda nos seus músculos, em especial os das costas. Tentou ignorá-la virando de barriga para cima e ao fazê-lo seus olhos enxergaram um teto grafitado. Ainda observando as figuras, enxergou por ali, entre um desenho e outro, uma flor vermelha. Seus pensamentos vagaram para certa flor de papel dada em demonstração de um sentimento que ele pensou que duraria para sempre. A verdade é que ele não se sentia como se tivesse que aceitar aquela perda, algumas vezes quando a ideia lhe passava pela cabeça, era como se aquilo não tivesse acontecido realmente. A sensação, por mais maluca que fosse, era que Sara o estava esperando, em algum lugar para que fosse salva. Antes que pudesse reconstruir a imagem do rosto dela em sua mente, Chuck o chamou para a realidade:
-Hey, Michael!
Ele havia subido no beliche e em questão de algum tempo estavam os dois lado a lado. Michael o olhou de canto de olho, seu amigo estava nervoso e algo lhe dizia que ele já sabia o porquê, mas mesmo assim esperou que Chuck tomasse coragem e lhe dissesse:
-Você tem certeza sobre a Sara?



Michael olhou bem dentro daqueles olhos negros acinzentados que o fitavam também. Era incrível que a essa altura dos acontecimentos ele conseguisse alguém a quem pudesse chamar de "amigo" e alguém assim tão novo e tão inexperiente. E o mais surpreendente em Chuck para Michael, naquele momento, era a preocupação que ele tinha por alguém que ele não conhecia. E a única motivação para essa preocupação era o fato de ele acreditar que Sara era alguém especial e que merecesse sua atenção.
Michael desviou o olhar e lhe respondeu:
-Eu gostaria que isso não fosse verdade, mas por mais que eu não tenha provas de que ela não está morta, não há nada que me diga o contrário.
-A não ser o pensamento de que você não queria isso.
Michael se surpreendeu o que Chuck dizia.
-Sim, existe esse pensamento. Mas... Por que eu acreditaria em uma ilusão?
Chuck pensou.
-Talvez não em uma ilusão... Mas em uma esperança, em uma fé.
Michael se perdeu nas palavras que ouvira. Mas, logo tentou ignorá-las.
-Escute... Eu não quero que você fique pensando nisso – e dando um impulso desceu do beliche – nós vamos sair daqui e em breve você voltará para a sua família.
Chuck, então, desceu também, concordando.
Michael se fixou ao lado das grades cuidando o movimento no corredor. Os minutos se passaram.
-Eles já deviam estar aqui. – Michael analisou, aproximando-se do amigo.
-Sempre duvidei que eles fossem pontuais. – brincou Chuck.
Michael riu um pouco sem vida.
Em alguns minutos, Bellick e Charlie entraram na cela seguidos de um Whistler que mancava. Cada um se posicionou em um lugar: Bellick permaneceu junto à janela, Whistler caminhou vagarosamente até um dos bancos, Charlie o acompanhou.
-Então o que aconteceu com a sua perna? – Michael indagou.
-Eu achei uma pá na cela de um dos "amigos" de Charlie e concluí que seria útil. Bom, você deve imaginar o resto.
Michael questionou, então, Charlie:
-Amigo?
Charlie parecia preocupado, talvez distraído com algo.
A única coisa que os outros ouviram, foi uma resposta que incluía mais questionamentos:
-Amigo.
Michael pensou duas vezes antes de continuar a conversa e decidiu que aquilo não era importante no momento. Levantou-se e tentou ficar visível a todos.
-Eu sei uma maneira de entrar no quarto de Lechero. Bom, como em todas as outras prisões essa já teve uma tubulação de ar também. A diferença é que eles não a utilizam mais, mas a vantagem é que ela pode nos levar até o quarta lá em cima.
Michael caminhou e parou ao lado de Bellick.
-No fim desse corredor, no andar de cima, há uma entrada no teto e é a mais próxima do quarto que queremos chegar. Charlie disse que há dois caras que ficam de guarda ao lado da porta de Lechero. Um ou mais de nós terá que distraí-los, para assim podermos fazer tudo no tempo certo.
Michael recuperou o fôlego.
-Alguma ideia para distraí-los?
Houve um silêncio em que todos pareciam pensar juntos.
Bellick olhou para Michael ao seu lado.
-Talvez... Eu tenha uma ideia.
Todos voltaram sua atenção para ele.
-Não sei se eu devia me pronunciar, já que eu farei parte disso... Mas, parece que eu não tenho outra escolha.
-Então...? – Whistler perguntou.
-Uma luta iria distraí-los quase que por completo, tanto a eles, quanto à Lechero e os demais.
-Isso é uma idéia a se pensar, mas além de Bellick quem mais está disposto a...? – antes de terminar, Michael foi interrompido.
-Eu faço, Michael. – Charlie se auto-indicou.
-Já que é assim... Vocês só têm que tomarem cuidado. Muito cuidado. E garantirem Lechero e os outros ocupados por um bom tempo.
-Michael?! – Chuck o chamou.
-Sim?!
-Não compreendo ainda como chegaremos até o quarto.
-Ok, acho que não deixei bem claro isso.
Michael aproximou-se do chão e com o giz que pegou embaixo do colchão de Chuck começou a desenhar. Depois de terminado, ele começou a explicar.
-Dentro do quarto de Lechero há uma saída da tubulação – Michael indicou o interior do quarto pelo desenho – mais ao lado fica o corredor, onde é provável que esteja o que nós procuramos. Então... Alguma dúvida?
-Acho que não temos mais o que conversar. – reforçou Charlie.
-Ok, então eu e Chuck iremos lá em cima, esperamos até a confusão estar armada e faremos o combinado. Whistler?
Whistler levantou o rosto e encarou Michael.



-Você deve saber que terá de ficar de guarda perto do corredor, não sabe?
-Sim, eu sei. Não esperava menos, depois disso. – ele apontou para própria perna.
-Michael, quando saberemos que é hora de parar? – Bellick quis saber.
-Eu guardo as coisas na cela e Chuck vai ao encontro de vocês. Ele não precisa fazer nada, só ficar a vista. Vocês saberão que podem parar. – Michael explicou.
-Então... Boa sorte para vocês. – Whistler desejou.
Eles agradeceram.
Chuck saiu da cela acompanhado de Michael. Whistler pegou o caminho contrário ao deles. Charlie e Bellick trocaram olhares mais uma última vez.
-Ok, Bellick, vamos lá. Não podemos perder tempo.
Bellick concordou balançando a cabeça. Então os dois deixaram a cela.

Já no corredor de cima, Chuck e Michael, escorados no parapeito da sacada, observavam de longe os capangas de Lechero e ao mesmo tempo cuidavam o movimento no pátio.
Michael aproximou-se mais de Chuck e disse aos sussurros:
-Quando o corredor estiver limpo, você sobe primeiro.
Chuck virou o rosto para fita-lo e respondeu:
-Tudo bem.
Michael olhou em direção ao pátio novamente e enxergou Bellick e Charlie.
-Olha. – Michael apontou para os outros dois.
Chuck virou-se e juntos eles começaram a ver a cena se desenrolar: Charlie e Bellick discutiam, logo Bellick tocou desajeitadamente um copo de água na cara de Charlie e esse se mostrou irritado – era notável que Charlie sabia fingir melhor que Bellick. Logo a confusão estava armada; os homens já circulavam os dois.



Michael olhou para o andar de cima e percebeu que Lechero já estava se retirando do quarto para saber o que estava acontecendo no pátio.
Michael olhou rapidamente para os lados, estavam sozinhos.
-Chuck, é agora.
Chuck se desescorou do parapeito, e antes de responder, olhou para a sacada de Lechero também: ele e os seus dois homens estavam dispersos.
-Bem como você disse que aconteceria.
Michael, segurando o seu ombro, sorriu e disse:
-É, vamos lá.
Caminharam até alçarem a tubulação. Michael começava a ouvir os gritos daqueles homens, que a essas alturas, deixavam de serem homens para serem selvagens. Os gritos de Lechero eram altos e de fácil compreensão também. Tentou não se concentrar no que ouvia e sim no que tinha que fazer.
-Hey, espera. – Chuck fez Michael não abrir a tubulação no momento que iria fazê-lo.
Chuck se distanciou até a última cela do corredor e voltou com alguns tijolos. Os dois empilharam os tijolos, Michael subiu, retirou a proteção e desceu novamente. Ajudou Chuck a subir e depois fez o mesmo.
Quando já estavam dentro daquele tubo estreito, Chuck perguntou, no seu tom mais baixo: -E os tijolos?
Michael terminou de botar a proteção no lugar e voltou-se para ele:
-Paciência, teremos que contar com a sorte de que ninguém os veja ali.
Chuck começou a percorrer o tubo e Michael, logo atrás, o seguindo. Percorreram-no durante três minutos e chegaram na saída que dava acesso ao quarto de Lechero.
Os dois pararam.
-Eu desço, depois você. – Michael delimitou, passando por ele.
Retirou a tela e olhou em direção a sacada. Lechero não estava mais ali, deduziu que ele tivesse descido as escadas para olhar de perto a confusão. Mas seus capangas ainda estavam; com as costas em sua direção e os olhos vidrados no que acontecia lá embaixo. Silenciosamente, Michael desceu para o chão. Enquanto, Chuck descia também, Michael o ajudava e tentava não tirar os olhos da porta.
Seu coração batia tão desesperado dentro do peito ao pensar que poderia ser pego. Aquela sensação era uma velha conhecida que voltava a atormentar.
Assim que os dois estavam no chão e depois de fecharem a tela, olharam em volta:
estavam na sala. Michael apressou Chuck e eles correram para o corredor da esquerda, saindo da vista de quem quer que fosse. Acabaram por encontrar um quarto com uma cama de casal. Seus lençóis eram velhos e rasgados nas pontas, havia um quadro na parede e uma mesinha ao lado da cama. Se eles não estivessem em uma prisão, Michael diria que aquilo era um quarto qualquer de uma casa, onde os proprietários não tinham as melhores condições. Mais ao lado do quarto, havia uma porta; Michael tentou abri-la, mas estava trancada. Olhou em volta, procurando por algo. Chuck deduziu:
-Deve estar no quarto.
Chuck adentrou no quarto, fazendo Michael o seguir. Rapidamente eles vasculharam o quarto, não encontrando nada. Ajeitaram as coisas em questão de segundos.
-Não há mais o que fazer - exclamou Michael caminhando em volta da cama - e nós não temos tempo também.
Chuck só o acompanhava com os olhos. Michael decidiu:
-Nós temos que ir.
E dizendo isso caminhou em direção ao corredor.
-Hey, espera.
Michael parou e olhou para trás. Chuck estava parado ao lado da cama, apontando para o quadro:
-Pode estar ali.
Michael foi até ele, parou ao seu lado e olhou para o quadro à frente deles. Não pensando duas vezes, levou as mãos à ele e o retirou do lugar. Chuck estava certo, lá estava um chave.
Saíram do quarto e quando estavam de frente para a porta, Michael colocou a chave na fechadura e girou-a duas vezes. Levou a mão à maçaneta e empurrou a porta: estava aberta, para alívio dos dois.
Era um armário comum e tinha todas as coisas possíveis lá dentro. Chuck pegou três pás e quando ia pegar a quarta, Michael o impediu:
-Eu acho melhor não. Se eles derem falta de muita coisa, saberão que alguém as pegou.
Chuck largou a pá onde estava. Michael pegou alguns ferros e algumas coisas úteis. Voltaram rapidamente para sala - depois de terem trancado a porta e guardado a chave no lugar. Os dois lançaram olhares nervosos para sacada: um dos homens ainda observava o pátio, mas o outro tinha o pescoço inclinado para a esquerda, para além do corredor. Michael podia sentir aqueles passos fortes e nada silenciosos, reconhecíveis aos seus ouvidos. Ele olhou para Chuck por cima do ombro e com apenas esse olhar, ele compreendeu tudo.
Eles foram até o centro da sala. Michael levou as mãos à tela da tubulação e a retirou, ajudou Chuck, alcançou a ferramentas a ele e antes de subir também, olhou novamente para a sacada. Um dos guardas estava prestes a virar o corpo para entrar no quarto de Lechero, e pelo som dos passos, esse parecia estar mais próximo do que nunca. Com toda a sua velocidade, Michael subiu na tubulação e depois que havia posto a proteção no lugar, começou a percorrer o tubo com Chuck e não olhou para trás um segundo sequer.


Quando chegaram a outra saída, Michael desceu primeiro, ajudou Chuck depois. Retiraram os tijolos e Michael lhe disse:
-Desce lá e avise-os, basta ficar a vista deles, será o suficiente. Encontro vocês na cela.
-Ok, até depois.
Michael e Chuck pegaram direções contrárias. Michael correu apressado e em pouco tempo estava na cela. Largou todas as ferramentas de baixo da cama e as tapou com um pano. Depois sentou no chão e recostou-se no beliche.
Suava muito e estava ofegante, parecia que tinha enfrentado uma maratona. Olhou para o chão e viu seu plano traçado ali: esquecera-se de apagá-lo. Parecia uma irresponsabilidade, mas ao olhá-lo, tinha a estranha sensação de que desenhara aquilo a dias. Também temia que Lechero ou um de seus homens o tivessem visto quando ainda estava subindo a tubulação, mas naquele momento a única alternativa era torcer para que não fosse verdade.
Ouviu barulhos e dispersou-se. Eram Chuck, Bellick, Charlie e Whistler. Ele os observou: Whistler ainda mancava, Bellick tinha um corte na sobrancelha e Charlie parecia estar mais exausto do que machucado. Michael levantou, pegou alguns panos e alcançou à eles. Charlie de imediato limpou-se.
-Me diz que vocês conseguiram, por favor.
Michael respondeu o que Charlie e os outros queriam saber.
-Sim, conseguimos. Então o que aconteceu lá embaixo?
Bellick narrou em detalhes, a luta, os homens que estavam incentivando-os e os outros contratempos. Whistler, então, finalizou:
-E quando cheguei mais próximo eu ouvi Lechero dizendo que queria conversar com os dois mais tarde. O que fazemos agora?
-Não sei exatamente, Whistler. - Michael disse - Mas, o que sei é que se descermos lá e cavarmos agora, pode não dar certo. Lechero pode chamar vocês a qualquer hora do dia, então hoje não faremos nada. Amanhã sim.
Conversaram e cada um foi para a sua cela.
Michael e Chuck já estavam sozinhos quando o auto falante informou que havia visita para Michael. Quando esse já estava próximo às grades onde as visitam se encontravam, avistou Lincoln de costas para ele.



Lincoln o sentiu ali e virou-se. Encararam-se por alguns segundos. Era tão difícil para ambos se encararem depois da última conversa que tiveram, para Michael mais ainda. Seu irmão ainda trazia o mesmo olhar, uma mistura de tristeza, cansaço e culpa. Por um lado, Michael o compreendia, mas por outro, a raiva que sentia dele era inegável. Permaneceu em silêncio e esperou que ele falasse.
Lincoln olhou para o alto, respirou fundo e disse:
-Encontrei Susan ontem. Ela disse que trará fotos de L. J. no próximo encontro e que ele está bem. E que assim que você sair com Whistler faremos a troca.
-Ok... Diga a eles que sairei no prazo de um ou duas semanas no máximo e nós daremos um jeito nisso.
Michael começou a se virar, já estava pronto para voltar, quando Lincoln o chamou novamente:-Escuta, eu tenho medo que essa gente mate a todos nós no fim. Não acho que sairemos com vida no fim.Michael havia parado para ouvi-lo. Devagar, virou-se e o encarou:
-Faça a sua parte ok, Lincoln?Que eu farei a minha e tudo dará certo.
-Michael, eu sei que está com raiva de tudo isso e sobre a nossa conversa sobre a Sara...Michael o interrompeu:
-Você mentiu.Lincoln parou instantaneamente de falar e embranqueceu.-Eu tive que mentir.Michael aproximou-se mais das grades e disse:
-L. J. é seu filho e meu sobrinho e não há nada que eu não fizesse por ele. Respirou e com os olhos baixos continuou:
-Mas aparentemente, você acha que eu só penso em mim mesmo e depois de tanto tempo você deveria saber que isso não é verdade.
-Eu sei que isso não é verdade... Mas você se preocupava com a Sara, eu sei que você a amava, Michael. E eu lamento por isso, mas L. J. é meu filho e eu não poderia deixar nada acontecer com ele, você sabe disso...
Michael ainda admirava o chão, aparentemente distraído, mas seus ouvidos captaram o que Lincoln havia dito. Levantou o rosto e respondeu:
-Você me usou, Lincoln. – Michael o olhou nos olhos – Então... Talvez você e a Companhia tenham algo em comum.
Michael virou-se e foi até Sona.Ouviu Linc bater com as mãos nas grades e depois se afastar. Continuou andando, seus pensamentos o tomavam. Estava farto daquela situação, estava farto de tentar compreender a tudo e a todos e nunca ser compreendido, estava farto de ter de tomar decisões. Só queria paz para seu coração, só queria Sara de volta. Só queria fechar os olhos e acordar sabendo que tudo finalmente havia terminado.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Prison Break {Capítulo 03x14}


Prison Break
3º Temporada

Capítulo 14
Mudanças de Planos

O choro de Michael aos poucos foi se silenciando, seus soluções e gemidos foram desaparecendo, mas ele ainda não conseguira deixar o corredor deserto. Tinha uma imensa vontade de sair dali, mas seu corpo e sua mente estavam tão cansados que ele não conseguia fazer o esforço de se levantar e caminhar. Ainda sentado no chão com as costas na parede, abaixou os olhos e viu as horas no relógio: eram duas da tarde. Lembrou-se que havia marcado com os outros às 15:30 ali mesmo. Sentiu um calafrio - estranho e incomum diante de tanto calor - só de pensar que eles poderiam vê-lo naquele estado.
Então, decidiu-se e levantou-se; abaixou os olhos mais uma vez e olhou para a foto de Sara em suas mãos: o medo e o ódio que sentia eram inexplicáveis às palavras. Perdera a mais verdadeira e a mais pura parte de si mesmo. Mas ainda havia alguém salvo e desta vez ele estava disposto a fazer acontecer.
Guardou sua foto no bolso e deixou aquele corredor.
Ao chegar a sua cela, Chuck estava debruçado sob o peitoril da janela observando algo lá fora. Quando ele o percebeu presente tirou os olhos da imagem que se estendia da janela e com uma expressão certa felicidade lhe disse:
-Michael!Michael, que bom que você chegou...


Quando Chuck aproximou-se dele, parou subitamente e o olhou nos olhos, viu a tristeza em seu semblante.
-O que aconteceu?
Michael desviou o olhar e foi até a cama, Chuck fez o mesmo ao segui-lo. E antes que pudesse insistir em sua dúvida, Michael perguntou:
-Escuta, Chuck... Você ainda tem aí aquela garrafa de água?
-Tenho, mas...
-Me consiga ela.
Chuck pegou a garrafa que estava ao lado do beliche e entregou-lhe.
-Obrigado.
Michael sentou-se no beliche e tomou alguns goles. A água desceu com alívio por sua garganta. Chuck aproximou-se.
-Cara... Você não vai me... – Chuck foi interrompido.
-Ela está morta.
Chuck paralisou ao ouvir as palavras que Michael havia dito. O restante da alegria que havia em seu rosto há pouco segundos atrás desapareceu. Ele suspirou e disse:
-Isso não é verdade, é? Quem te disse isso?
Michael passou uma das mãos sobre o rosto.
-Linc me contou hoje cedo. A única coisa que sei é que foi A Companhia.
Michael silenciou, Chuck o observou por um longo momento.
-Eu lamento muito, Michael... Se houvesse algo que eu pudesse fazer eu faria. Acho que eu faria qualquer coisa para poder te ver bem... E a Sara, ela...
Michael examinava o chão pensativo, ao ouvir as palavras de Chuck sentiu uma lágrima rolar por seu rosto, levantou-se rapidamente e de costas para Chuck – depois de ter limpado sua lágrima restante – disse:
-Continue me ajudando na fuga é o máximo que você pode fazer e já é o suficiente.
Chuck concordou. Michael saiu da cela, deixando-o sozinho.
Caminhou em direção a cela de Charlie, mas antes que chegasse lá o avistou conversando com outro prisioneiro no pátio perto da parede onde Chuck jogava basquete. Encaminhou-se até ele e logo que se aproximou o homem que estava ao lado de Charlie o encarou e foi embora, deixando-o os dois a sós
-O que foi?Ainda não está na hora, está?
-Não, ainda não. Mas precisamos conversar.
-Tudo bem, vamos até a minha cela.
Michael o seguiu.
-Tenho algo para falar também.
Michael deixou de olhar para o chão para encarar Charlie.
-Então... O que é?
Eles haviam chegado à cela, Charlie certificou-se mais uma vez de que eles estariam a sós e então começou:
-Eu caminhei hoje de manhã lá em cima. Dois homens de Lechero ficam de guarda em frente ao seu quarto. Eu dei uma olhada lá dentro e a única coisa que eu consegui enxergar foi alguns sofás, uma televisão pequena e algumas outras coisas. As possibilidades não parecem ser muito boas...
Michael ficou pensativo, depois expressou:
-Podemos conversar sobre isso depois?Outra hora?
Charlie o analisou, deixando seus pensamentos vagarem para o motivo de estarem os dois ali, a sós.
-Ok... O que você quer conversar, Michael?
Michael tomou coragem e disse:
-Quero destruir A Companhia.
-O quê? Mas... – Charlie parecia não achar as palavras. -Bom, isso não parece digno de você.
Aquilo pareceu ser uma piada, mas Michael não conseguiu achar a mínima graça no que ouviu.
-Então... Você vai me dizer o que o fez mudar de idéia?
De uma vez só e bem rapidamente, Michael exclamou:
-Sara.
Os olhos negros de Charlie arregalharam-se de surpresa e constrangimento.
-O que fizeram com ela?
-Eles a mataram e eu vou descobrir quem o fez. Vou destruir A Companhia assim como eles fizeram com a minha vida.
Sem muitos rodeios, Charlie disse:
-Eles fazem de tudo para acabar com o que temos de melhor e mais importante.
Michael completou:
-É, você está certo... Talvez nós tenhamos mais coisas em comum do que imaginamos.
Charlie deu um sorriso de canto, dizendo:
-Você sabe que pode enfrentar consequências desagradáveis, se realmente quiser destruir A Companhia, certo?
-Se Sara estiver mesmo morta, eu não tenho dúvidas de que farei isto. Bom, estamos juntos nessa?
-Se é assim, sim... Nós estamos juntos nessa.
Michael silenciou. Charlie pensou que seria melhor deixá-lo sozinho. Então se levantou, dizendo:
-Nós encontramos daqui a algum tempo?!
-Sim.
Charlie encaminhou-se a porta da cela.
-Charlie, espera!
Charlie virou-se e parou para ouvi-lo.
-Whistler?
-Desculpa, Michael, mas eu não faço a menor idéia. Mas acredito que dos limites de Sona ele não passa sem a nossa ajuda.
Charlie deixou Michael para trás e saiu a caminhar pelos corredores. Quando sentiu que estava só e em segurança recostou-se a uma das paredes. Percebeu que ali ele estava distante dos olhares alheios. Retirou, então, do bolso de sua calça um celular em condições não muito boas. Discou um número rapidamente e esperou:
Charlie ouviu chamar algumas vezes, por fim uma voz autoritária atendeu:
-Sim?
-Susan, é Charlie.
-Oh, Charlie?E então, quais são as notícias?Algum progresso ou Linc ainda não contou para ele?
-Ele contou sim. Ele está com bastante raiva no momento.
-Assim que deveria ser. Deixe o ódio dele aflorar, mas cuide para não levantar suspeitas, não se pode esquecer de com quem estamos lidando, Charlie.
-Ok, eu entendi. Qualquer coisa, eu volto a ligar.
-Ok.
Charlie desligou e guardou o celular dentro do bolso das vestes. Olhou para os dois lados só para garantir que ninguém havia ouvido nada. Depois se dirigiu ao esgoto, ao chegar cumprimentou-os:
-Olá.
Michael assentiu, Chuck retribuiu:
-Hey, cara.
-Então, vamos lá?
Michael o olhou com certa repreensão.
-Temos que esperar Bellick e Whistler.
-Poh, esses caras são muito lerdos, você deveria despedir eles, Michael.
Michael riu da piada de Chuck e Charlie também.
Logo, Bellick e Whistler estavam presentes.
Michael tomou a palavra.
-Eu consegui as lanternas.
Michael distribuiu as lanternas entre todos eles.
-Vamos descer, ver o que achamos lá e depois teremos que conseguir as pás. Amanhã de manhã, eu quero vocês três – ele apontou para Charlie, Bellick e Whistler – na nossa cela. Traçaremos um plano para entrar no quarto de Lechero.
Todos concordaram. Michael esperou mais uns instantes e completou:
-Ok, já que ninguém contestou nada até agora, eu só tenho mais uma coisa a dizer a vocês.
Whistler lhe lançou um olhar nervoso. Os outros esperavam.


-Houve uma mudança nos planos e o trabalho e a fuga será feito em uma semana, se possível em menos tempo.
Ninguém pareceu muito contente com as ordens de Michael. Mas Bellick foi quem se manifestou:
-Como, Michael?Fazer isso tudo em uma semana sem que ninguém perceba?Quer que trabalhemos feito escravos? – Bellick riu ao fim.
Michael virou-se e o encarou furtivamente.
-Caso você não saiba isso está em jogo a vida do meu sobrinho e da Maricruz. Aliás, você está lembrado por que a Maricruz virou prioridade também? Bom, eu acho que você tem bastante consciência disso. Então pare de reclamar e se apresse.
Michael deu as costas para Bellick e aos outros também. Aproximou-se da porta e a entreabriu, fez um sinal e todos entraram em sintonia. Michael fechou a porta em silêncio e virou-se, apontando a lanterna para os pés: conseguiu enxergar os tijolos que faziam do chão a escada. Olhou para os lados atordoado e viu as quatro sombras dos homens que estavam consigo se movendo tão ou mais rápido quanto ele.
Apontou a lanterna mais a frente e juntos eles começaram a descer a longa escada. Não se passou dois minutos e eles já estavam chegando à água parada no chão.
Charlie parou ao lado de Michael, com a sua lanterna erguida e olhando para onde a luz dela clareava disse:
-Você tem certeza que é aqui?
-Absoluta. Aqui é o lugar mais seguro dessa prisão. Raramente alguém entra ou sai.
Eles deram mais alguns passos e deixaram o escoamento para trás. À medida que caminhavam, o cheiro do esgoto e a água em seus pés diminuíam. Andaram durante três minutos sem encontrar nada, só então eles se depararam com duas saídas que davam continuação ao túnel. Todos pararam diante delas e Whistler exclamou:
-Nos separar?
Michael consentiu a Whistler e definiu:
-Você, Bellick, vem comigo. Você – Michael olhou para ChuckCharlie e Whistler vão juntos pela esquerda. A primeira dupla que chegar ao fim do túnel, volta e espera aqui pelos outros.
Antes de se separarem, Michael e Chuck trocaram olhares nervosos. Desde que falara para Chuck sobre Sara, esse pareceu estar com os pensamentos elevados. Como se estivesse presente só em corpo. Michael nutriu seu olhar, tentando acalmá-lo de uma maneira que nem ele poderia acalmar a si mesmo.
Ele, então, desviou-se daquele olhar cheio de interrogações que recebera do amigo e fez sinal para Bellick. Eles seguiram pela passagem da direita e a última coisa que ouviu antes de se afastar foi a junção dos passos firmes de Charlie, dos passos imprecisos de Whistler e dos passos silenciosos de Chuck.
Sentiu-se por um momento angustiado. Talvez ele tivesse errado, talvez devesse ter formado uma dupla com Chuck e não com Bellick. Mas se assim o fizesse, quem seria os ouvidos de Charlie, Whistler e Bellick? Chuck cuidaria dos outros mesmo que inconscientemente. E Bellick era a sua responsabilidade.
-Michael! – Bellick gritou e o sobressaltou.
-O que foi? – Michael continuava a iluminar o longe.
-Quando você disse que precisava ajudar o L. J. e a Maricruz, eu não lembro de você ter dito nada sobre Sara... O que aconteceu com ela?
Entre um passo e outro, Michael respondeu:
-Nada. Não aconteceu nada.
-Nada?Ou ela achou você um cara complicado de mais e quis terminar o namoro antes de vocês casarem e terem filhinhos?
Bellick riu de suas ironias. Michael enraiveceu-se: deixou a lanterna cair no chão e empurrou Bellick contra a parede bem rapidamente.
-Ela está morta, filho da mãe!E por minha causa... Então se você não se importa fique quieto e continue andando!Não atormente os meus pensamentos.
Michael o soltou e se afastou. Bellick ainda encostado na parede assustado perguntou tropeçando nas palavras:
-Morta?Mas como... Como morta?
Michael agora só enxergava o chão em baixo de si. E ainda assim de maneira um pouco nublada. As lágrimas insistiam em voltar.
Bellick parecia estar realmente chocado ao saber que Sara já não fazia mais parte daquele mundo.
-Eu... Sinto muito Michael.
Ele sentiu que se ficasse ali parado a qualquer momento ele choraria novamente. Então, procurou pela lanterna no chão sujo e a pegou entre as mãos, levantou o rosto e ordenou:
-Vamos continuar.
Bellick ficou por alguns segundos absorvendo informações, antes de se apressar para alcançar Michael que já estava mais à frente.



Caminharam durante mais alguns minutos - em um silêncio intimidador – e chegaram finalmente ao final do túnel. Michael olhava decepcionado para os destroços que barravam uma possível saída para eles.
-Já desconfiava disso. – exclamou entre os dentes.
-Vamos tirar isso e cavamos, é só o que precisamos fazer. – Bellick concluiu.
Michael aproximou-se dos destroços e os restos de construção que havia ali, depois se virou com a mãos em posição em sua própria cintura, dizendo:
-Sabe que é arriscado, Bellick.
-É, eu sei. Mas nós temos alternativas?
-Não, não temos.
-Voltar? – Bellick perguntou depois de um momento.
-Sim, voltar. – Michael concordou.
Juntos e mais uma vez em silêncio eles percorreram o caminho de volta. Quando chegaram os outros já estavam à espera.
-Então, o que acharam? – Charlie perguntou.
Michael respondeu:
-Destroços.
-O mesmo. – Whistler conclui em um tom nervoso.
Michael suspirou cansado.
-Eles devem ter barrado a saída, eu digo os guardas. Quando esses deixaram a prisão. Ok... Dêem-me um tempo para pensar.
Os outros respeitaram e lhe deram tempo. Chuck ainda conservava o mesmo olhar perdido e desnorteado de antes. Michael aproximou-se e perguntou quase que em um sussurro:
-Você está bem?
-Não muito... – admitiu. - mas acho que eu que devia lhe fazer essa pergunta.
Michael pode perceber que Chuck tentava sorrir, mas não estava funcionando como devia. Ele tampouco conseguiu fazer o mesmo. Pelo jeito, a sua dor – mesmo não sendo no mesmo aspecto e na mesma intensidade – era a mesma. A perda de alguém, mesmo que não conhecível, ia ser dolorosa para Chuck também.
Michael falou a todos:
-Ok, não sei ainda o que será o certo a fazer até que comecemos a mexer nos destroços. Então vamos apenas subir e depois de conseguir as pás e o resto, nós viemos aqui e decidimos o que vai ser feito. Todos de acordo?
Todos concordaram e Whistler acrescentou:
-Você parece saber o que está fazendo. Mas e quanto lá fora, Michael? E os guardas, as grades...?
-Isso nós veremos depois. A prioridade é um caminho que leve até lá em cima. Depois, nós preocupamos em conseguir passar pelos guardas e as grades, mas se você está muito preocupado com isso, eu já estou pensando a respeito.
Whistler silenciou, sem mais perguntas.
Eles se dirigiram mais uma vez ao longo túnel, desta vez com um único caminho a percorrer.



Lincoln saia do hotel apressado e sentindo-se um pouco desconfortável. Entrou no carro que estava na garagem e antes de ligar o motor deu uma olhada rápida para o relógio sob o seu pulso: estava atrasado. Com um mapa na mão e outro no volante andou cerca de dez minutos, conseguindo enfim encontrar o bar em que iria conversar pessoalmente com Susan.
Estacionou, desceu do carro e olhou em volta: era um restaurante simples, mas muito aconchegante e, claro, movimentado. Ao seu lado, havia um prédio azul marinho, como Susan havia descrito.
Olhou para os dois lados da rua e a atravessou. Entrou num bar e sentou-se em uma mesa. O garçom passou por ali, ele pediu um copo de água e foi só.
Esperou; não havia mais o que fazer. Todas as pessoas naquele lugar pareciam felizes e sorridentes. Havia muito tempo que não sentia vontade de sorrir. Ele sabia quais eram os motivos daquilo. Sabia que era por causa de sua culpa, de seu pesar, de seu egoísmo, de ódio que irradiava de outras pessoas. Mas, aparentemente, ele acreditava em Michael e ele traria a sua vontade de volta um dia.
Seus pensamentos voltaram ao lugar do ponto de encontro onde estava. Foi então que ele ouviu aquela voz sedutora, forte e atraente. Olhou mais a frente: lá estava ela sob o balcão, conversando de maneira e educada e levemente sinuosa com o garçom. Ele deu um meio sorriso bobo para ela e Susan lhe retribuiu com uma gorjeta.



Seu corpo girou e ela começou a andar pelo restaurante. Vestia um blazer e uma calça social pretos, nos pés um salto alto. Seu andar impressionava e arrancava os olhares que há pouco tempo estavam direcionados para outros lugares e outras pessoas. Seus cabelos negros e lisos caíam abaixo dos seus ombros. Seu corpo era curvilíneo e profundamente sedutor: ela era mais bonita do que a imaginação que Lincoln produzira para si mesmo. "Bonita" talvez não fosse a palavra certa, certamente linda também não. Talvez o mesmo adjetivo da voz: atraente. Talvez ainda... Tentadora.
Lincoln tentou banir aqueles pensamentos de sua cabeça atônita. Agora ela já estava se aproximando da mesa onde ele estava sentado, ignorando completamente os olhares nervosos e cobiçosos a sua volta. Ela diminuiu o passo e então estava a sua frente:
-Olá, Lincoln.
Seu cinismo e arrogância eram visíveis de uma maneira agonizante. Lincoln ajeitou o corpo na cadeira e aproximou-se da ponta da mesa:
-Nada bem.
Susan riu, fingindo achar graça. Mas seus olhos azuis chamativos como os de uma cobra perversa pronta para dar o bote estavam cautelosos. Depois, secamente começou a falar:
-Ok, Lincoln. Nós dois sabemos o que estamos fazendo aqui, então eu não vou fazer você e eu perdermos tempo. L. J. está bem, apenas com saudade do pai e do tio. Mas até que em alguns momentos ele parece estar bem com as suas novas acomodações.
Susan desdenhava. E a raiva de Lincoln crescia energicamente.
-Falei com Michael. Whistler está em mãos.
-Hum... Isso é muito bom. Alguma notícia boa realmente, não é mesmo?Afinal, Lincoln, você já disse ao seu irmão que ele está viúvo?
O ódio ardeu como brasa no peito do Lincoln. Sua mãos suavam por cima da mesa. Tentou controlar sua descompostura e então perguntou:
-O que mais você tem a me dizer?
Os olhos de Susan reviraram e ela respondeu em um tom silencioso:
-Você viu o que eu fiz com a Sara, não é mesmo?Saiba que eu dificilmente tolerarei algum erro ou alguma mentira. Então, pense antes de fazer qualquer uma dessas duas coisas.
-Eu entendi. Só quero te pedir uma coisa.
Susan avaliou sua expressão e consentiu.
-Fotos de L. J.
-Eu entendo. Certo. Próximo encontro. Mais fotos. O que mais?
-É só isso.
Susan apoiou-se na mesa ao levantar-se.
-Ligarei informando o lugar do nosso próximo encontro.
Susan lhe deu uma piscadela. Lincoln deu de ombros, inconformado e lhe respondeu:
-Tudo bem.
Susan lhe deu um aceno de mão e voltou-se para o restaurante lotado e para os olhares curiosos que a acompanhavam a cada passo.
Lincoln fechou os olhos e apenas sentiu seu coração bater freneticamente e sua respiração ofegante o cansar. É, estava realmente cansado e exausto e naquele momento não havia nenhuma outra coisa no mundo inteiro que ele quisesse mais do que o seu filho de volta.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Prison Break {Capítulo 03x13}


Prison Break
3º Temporada


Capítulo 13
A notícia

Michael passara aquela noite em claro. Por várias vezes tentou fechar os olhos e se concentrar, mas os pensamentos sobre a fuga e sobre Sara e L. J. o distraiam e o pouco sono que tinha deixava de existir.
Aos poucos, ele presenciava o dia amanhecer. Aquela névoa comum nas primeiras horas da manhã do Panamá começava a dispersar e dar lugar ao sol penetrante e quente capaz de queimar qualquer pele por mais forte que fosse. Ele observou por um momento os guardas da noite trocar a guarda com os de dia e esperou que aquilo fizesse alguma diferença em sua fuga.
Desceu do beliche, pegou a camisa azul escuro que Lincoln havia comprado para ele e saiu da cela.
O pátio estava vazio por àquela hora, caminhou e foi até a torneira. Olhou para os lados, viu que ninguém estava por perto, então retirou a camiseta velha e surrada de seu corpo e lavou-se. Enquanto deixava escorrer a água pelos seus braços e as demais partes, observou as próprias tatuagens, lembrou o trabalho e o dinheiro que elas lhe custaram. E agora que ele as olhava, via que elas eram quase inúteis, mas por outro lado elas representavam algo muito significativo na história de sua vida.


Desviou seus pensamentos e fechou a torneira. Vestiu a camiseta limpa e segurou a outra na mão – nunca saberia se um ele precisaria dela.
Caminhou de volta a cela. Chuck já estava acordado.
-Bom dia.
-Bom dia, Mike.
Michael deu alguns passos e sentou-se ao seu lado. Chuck olhava para os pés concentrado. Ele demorou-se por um longo momento em seus pensamentos. De repente exclamou entusiasmado:
-Mal posso esperar para a gente começar a trabalhar!
Michael riu.
-Pois é, eu também.
-E Lincoln vem hoje?
Michael abaixou a cabeça e olhou as horas no relógio que estava em seu pulso. E depois respondeu:
-Vem daqui a pouco. Não mais que meia hora, eu acho. – Michael suspirou – Eu vou indo lá, vou falar com Sucre antes de Linc chegar. Se Bellick, Whistler ou Charlie perguntarem por mim, diz que você não sabe onde estou e se eles quiserem saber qualquer outra coisa que você ache que eles não devem saber, dê um jeito e enrole eles.
-Eu cuido disso.
Michael concordou balançando a cabeça e saiu da cela. Atravessou o pátio e foi até as grades. Aproximou-se delas e olhou ao longe: Sucre estava sentado em um banquinho com seu macacão de trabalho bebendo água em uma garrafinha. Ele viu o exato momento em que o amigo o enxergou ali parado esperando por sua presença.
De um movimento só, Michael o viu se levantar, fechar a garrafa e a colocar ao lado do banquinho. Logo depois os dois já estavam encarando um ao outro.



-Michael.
-Sucre.
Deram as mãos entre as grades e começaram a conversar. Sucre perguntou:
-Como está tudo aí dentro?
-Mais ou menos, Sucre.
Michael respirou ansiosamente e então lhe contou:
-As coisas estão como eu esperava até agora. Todos estão cooperando e logo começaremos a cavar. Depois do túnel tem um escoamento, vamos caminhar e no fim dele cavamos. Depois que nós começarmos a cavar virei falar mais seguido com você, para não termos perigo de acharmos a superfície num dia em que você não esteja por perto para tapar o buraco com as lonas e com os corpos. Então...Eu quero saber se está tudo certo ainda?Você tem certeza que quer fazer?
-Michael, corta esse papo, isso já é muito desnecessário a essa altura. Eu farei e nada vai mudar isso.
Michael sorriu-lhe. Era incrível a ligação dos dois. Nenhum outro poderia ser comparado a Sucre, nem mesmo Chuck que ele já amava de certa forma como o filho que ele ainda poderia vir a ter, se comparava aquilo. Michael percebeu sua preocupação e tratou logo de lhe contar o que devia.
-Eu... Não consegui arrancar nada de Bellick além do que já sabemos. Mas ele me garantiu que os dois estão bem. Bom, e eu o lembrei o motivo por estar ajudando-o.
Sucre bateu com as mãos na grade que os separava.
-Isso está me enfurecendo, Michael.
Michael tentou acalmá-lo.
-Hey, isso vai dar certo... Já não deu uma vez?Então... Agora não vai ser diferente.
Sucre silenciou; concentrado em pensamentos próprios. Michael não o perturbou e esperou que ele recomeçasse a falar.
Ele fitou seu rosto, então perguntou ansiosamente:
-Sara e L. J.?
Michael o olhou sério e silenciou por alguns segundos também, antes de desviar o olhar e respondê-lo:
-Até onde eu sei estão bem. Lincoln trará novas notícias hoje.
Sucre consentiu. Viu Michael sorrir para ele, antes de olhar ao longe e expressar:
-Acho que ele vem chegando.



Sucre olhou sobre o ombro. Avistou Lincoln também, então virou-se para cumprimentá-lo:
-E aí, cara? – Sucre aproximou-se abraçando-o.
-Como vai, Sucre? – Lincoln retribui o abraço.
-Ah, você sabe. Nem tão mal quanto você, nem tão bem quanto ninguém.
Lincoln achou engraçado e riu. Houve um momento de silêncio novamente, durante o qual Michael observou Lincoln: ele estava quase tão igual quanto o outro dia. O mesmo peso nos olhos, o mesmo cansaço. E Michael ainda tinha aquela mesma impressão de que algo estava acontecendo e ele desconhecia isto. Enquanto os dois irmãos estavam absortos em um olhar nervoso, Sucre quebrou o estranho silêncio ao dizer:
-Pessoal, não posso ficar muito tempo aqui, se eu deixo de ser coveiro, adeus ajuda, adeus fuga.
Michael consentiu sorrindo. Lincoln permaneceu em sua mesma postura imóvel.
-Bom, eu tenho tido muito tempo para pensar aqui dentro. Eu planejei muitas coisas em minha cabeça, mas eu quero que vocês estejam conscientes de que desta vez a probabilidade de que isso não dê certo é muito maior. Mas eu sei que com a ajuda de todos, não tem porque não funcionar.
Michael respirou e continuou:
-A princípio, sairemos daqui à noite, por volta das nove horas. No dia que terminarmos de cavar você, Sucre, irá cobrir o buraco como combinamos, para que a noite nós possamos sair. Eu estava observando esses dias e reparei que os guardas desse turno saem às 10 horas e depois os próximos ficam durante toda a madrugada. Isso significa que teremos que fazer tudo em uma hora. Você, Sucre, ficará aqui até às 10 horas, como sempre, para que não haja suspeitas. Eu, Chuck, Bellick, Charlie e Whistler sairemos e encontraremos Linc na estrada. Então lá, nós seguraremos Bellick até que Sucre apareça. Acho que é isto...
Sucre apenas disse que entendera tudo. Lincoln perguntou:
-E sobre L. J. e Sara?Quando iremos buscá-los?
-Iremos nos separar de todos, eu, você, Charlie e Whistler. Iremos para o hotel, de preferência o seu. Porque assim, ninguém ficará sabendo do que você alugou a pouco. Lá conversaremos e vamos ver o que faremos.
Lincoln concordou. E Sucre exclamou:
-Eu posso ajudá-los depois que encontrar a Maricruz.
Lincoln e Michael o agradeceram sem expressar se iriam aceitar a ajuda ou não. Michael sabia que quanto mais Sucre e sua família se afastassem, mais seguram estariam.
Michael desviou o olhar de Sucre e concentrou-se em Lincoln.
-Ligou para Susan?Você disse que queríamos mais fotos?
-Não liguei e não pedi mais fotos.
Michael o olhou desnorteado.
-Como?Vocês não se encontrarão essa tarde?
-Sim, nos encontraremos essa tarde.
Alguma coisa dentro de Michael o fez sentir-se mal de repente, ao ouvir aquilo. Ele respirou fundo e mais sério do que de costume perguntou:
-Então por que você não ligou?Por que não pediu mais fotos?
Lincoln sentiu uma gota de suor escorrer de sua testa e descer lentamente até o pescoço, lhe produzindo arrepios. A mentira não podia mais continuar, o medo começava a tomar conta dele de uma maneira agonizante. Virou-se para Sucre, que estava ao seu lado, observando-o com as mesmas indagações que o irmão. Então pediu calmamente:
-Você pode nos deixar sozinhos, Sucre?
Sucre surpreendeu-se com o pedido, mas concordou. Ele olhou para Michael dizendo:
-Obrigada, Michael. Conversamos outro dia. – ele virou-se. – Tchau, Linc.



Sucre saiu em silêncio. Michael perguntou:
-Por que ele não podia ouvir?
Lincoln enxergou uma profunda tristeza e preocupação no rosto de Michael. Sua expressão também se preocupou e tentou lhe responder, mas parecia que as palavras estavam enterradas em sua garganta.
-Linc, por que você não pediu as fotos?Por que não?
Michael sentiu medo, muito medo da resposta que veria a seguir.
-Michael, eu não sei como te dizer isso!
Lincoln calou-se. Michael continuava ali parado ali, olhando-o. Aquele silêncio sufocando-o cada vez mais.
Lincoln suspirou, fechando os olhos com desespero respondeu-lhe:
-Ela está morta, Michael.




Michael não sabia dizer exatamente o que sentiu naquela hora. Seus olhos nublaram e seu coração ligeiramente apertou-se dentro do peito. Tentou olhar para Lincoln como se ele fosse lhe dizer que aquilo que ouvira a pouco não era verdade. Mas ao invés disso, Michael ouviu as palavras atropeladas do irmão:
-Eu sinto muito, Michael. Por isso, por ter mentido para você também. Mas eu não podia ter contado antes. Se você não sair daí logo, eles vão matar L. J. também!
Ao ouvir aquilo, Michael tentou falar, mas qualquer coisa que ele quisesse dizer, não conseguiu. Sua garganta secou e o som não saiu. Só sabia dizer que alguém muito ruim havia tirado a vida da coisa que ele mais se importava no mundo inteiro e Lincoln nem ao menos se interessara em lhe contar a verdade.
Ele olhou bem dentro dos olhos do irmão, mais uma última vez. E Lincoln viu a tristeza imensa que havia nos olhos dele. Dando meia volta, sem falar nada, Michael começou a andar em direção ao pátio de Sona.
Lincoln continuou ali com o seu sentimento de culpa dentro do peito e tentou pedir a Michael que continuasse com a fuga:
-Michael você tem que fazer isso!Pelo L. J!Você tem que fazer!
Lincoln continuou gritando, mas era inútil, Michael já não escutava mais nenhum som que havia a sua volta. Todos os seus sentidos pareciam não mais exercer a função que deviam. A cada passo aquela dor insuportável começava a tomar conta dele. Caminhou sem olhar para trás e quando deu por conta, havia chegado à parte vazia de Sona, onde havia a porta que dava acesso ao esgoto.
Pensamentos perturbadores começaram a invadir a sua mente: como aquilo acontecera? O que fizeram com ela?Com a criatura mais amável que já conhecera...?
Aquela estranha sensação de que talvez ele nunca mais a veria passou rapidamente pela sua cabeça. Lembrou-se de mil coisas em milésimos de segundos. Aquele rosto delicado, aquela pele macia, aquelas mãos ternas e aqueles lábios doces: nunca mais ele provaria mais nada daquilo.
De repente, como ele jamais se sentira na vida, um ódio incontrolável e uma raiva pedindo para se libertar o tomaram. Rapidamente suas mãos acharam uma caixa de madeira qualquer que havia ali naquele corredor deserto. E com toda a força, ódio e raiva que restavam em seu corpo atirou-a contra a parede muitas vezes, até não sobrar quase nenhum vestígio.
Ele parou onde estava e respirou fundo e junto com isso lágrimas sufocantes escorreram pelo seu rosto. Levou as mãos ao bolso e retirou a foto de Sara – com ela nas mãos as lágrimas aumentavam mais ainda. A dor e o próprio choro o controlavam agora.
Em pensar que talvez ele nunca mais veria aqueles olhos – olhos perturbadores e ao mesmo tempo profundos e misteriosos – se tornava tão difícil de chorar.
Ela viveu em sua vida e todas as vezes que estava por perto tudo era incrivelmente calmo; ela alcançou a sua alma e o fez perceber que ele podia ter mais fé e coragem do que um dia ele pensou que teria.
O cansaço tomou conta de seu corpo e ele recostou-se na parede e chorou. Chorava, gritava e soluçava ao mesmo tempo. Por que Deus estava sendo tão cruel com ele a ponto de tirar-lhe a única mulher que ele realmente amara?!A única mulher que fizera o que nenhuma outra fez, a única que fez Michael renascer: aquela que o trouxe de um mundo muito distante e lhe apresentou a vida novamente.