sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Prison Break {Capítulo 03x16}


Prison Break
3º Temporada

Capítulo 16
O perdão de Mahone


Michael já havia acordado naquela manhã; não dormira bem aquela noite, aliás, não dormira, não piscara um segundo sequer a noite toda, mas apesar disto, o sono parecia não lhe fazer falta naquele momento. Permanecia de pé perto da janela, onde podia ver a rotina diária que os guardas faziam e onde podia pensar sobre a fuga e sobre todo o resto. E de vez enquanto lançava um olhar rápido para a cama de Chuck para ver se ele já estava acordado.
Depois de certo tempo, abaixou os olhos e certificou-se das horas: eram quase nove da manhã. Fez-se esquecer dos guardas e da vista e foi até a cama de Chuck, silenciosamente chamou pelo seu nome e balançou seu braço. Depois de algumas vezes mais o chamando, ele despertou.
Seus cabelos negros e encaracolados estavam ainda mais revirados. Parecia meio perdido como se não soubesse ao certo onde estava; Michael sorriu ao vê-lo daquele jeito, lembrou-se que foram poucas as vezes que ele o acordou: ou eles acordavam quase na mesma hora ou Chuck o acordava.
Chuck jogou o casaco, com o qual estava tapado durante a noite, para o lado e mexeu levemente os cabelos, deixando-os em um estado um pouco melhor.
Enquanto ele se sentava na cama, Michael disse:
-Bom dia.
Chuck sorriu meio de canto e retribuiu:
-Bom dia.
Michael tornou a voltar para a janela e questionou:
-Você acha que consegue alguma coisa para comermos?Hoje é o dia que os guardas mandam as cestas de comida.
-Não sei, mas posso tentar.
Michael consentiu e disse:
-Vamos indo, você sai comigo e depois procura algo para nós comermos, enquanto eu vou ter que levar as pás para o esgoto. Se alguém me pegar é melhor que me pegue sozinho.
Chuck parecia não ter gostado muito da ideia, mas concordou em silêncio. Levantou-se da cama, espreguiçou-se e esperou que Michael dissesse quando poderiam ir. E este permaneceu ali mais alguns minutos, depois olhou no relógio, e consequentemente foi até as grades da cela, olhou o movimento nos corredores e voltou-se para Chuck:
-Acho que podemos ir... Vou esperar você na frente da porta, no esgoto... Ok?
-Ok...
Michael pediu que Chuck cuidasse para que ninguém se aproximasse e foi até a cama, ojoelhou-se e retirou as pás de lá. Deixou-as ainda cobertas pelo pano que as cobrira no dia anterior e seguiu em direção ao corredor. Ultrapassou a linha que separava a cela do corredor, quando Chuck o chamou:
-Hey, Michael...
Michael virou-se e esperou.
-E se eu não conseguir, se alguém me pegar, ou...
Michael se aproximou e disse:
-Hey, você não fez isso tantas vezes?Por que o medo agora?
Chuck olhou para as mãos e disse:
-Sei lá... Talvez você tenha razão, não sei por que eu dizendo isso... Esquece!
Michael olhou para Chuck e se aproximou mais, dizendo:
-Você pode ter medo, isso não é uma coisa anormal e você sabe disso... Mas não pode deixar que isso tome conta de você. Vai dar certo...
Chuck levantou o rosto para Michael e consentiu, depois disse:
-Tome cuidado também.
Michael sorriu e o deixou.
Caminhou rapidamente, passou por alguns homens que o fitavam e fitavam principalmente o embrulho que carregava consigo. Tentou ignorar aqueles olhares e seguiu em frente; em menos de dois minutos já estava diante de Bellick, Charlie e Whistler em frente ao esgoto. Lançou um olhar rápido aos três que o miraram também e caminhou até a porta.
Largou as pás no chão por alguns segundos e levou a mão ao ferro, o puxou e depois de aberta a porta colocou as ferramentas lá dentro, no segundo degrau.
Virou-se para os outros, e disse:
-Então, como foram com o Lechero?
Charlie e Bellick se olharam rapidamente, antes de começarem a falar:
-Nada bem, Michael-disse Charlie.
Michael deu alguns passos, ficando à frente dos dois.
-Então o que ele disse a vocês?
-Ele nos chamou perto do entardecer... Adivinha quem veio até nós, para nos levar até ele? - disse Bellick.
Michael paralisou seu olhar sobre Bellick durante um tempo, depois respondeu sem entusiasmo.
-Não sei, quem?
-T-bag. - respondeu Bellick.

 
Bellick não parecia estar mentindo e Michael detestava ter que admitir isso para si mesmo.
-O que vocês acham que ele está tentando fazer?O que vocês viram? Descobriram?
Charlie tomou a palavra:
-Bom, eu vou lhe contar como as coisas aconteceram...
Michael consentiu e parou para escutar.
-T-bag veio até nós, disse que Lechero estava nos esperando no quarto dele, no andar de cima e que era para nós o acompanharmos. No início Bellick perguntou o que ele fazia obedecendo às ordens do cara e tal, mas ele só dizia que era para o acompanharmos. Fizemos isso, quando chegamos lá, Lechero estava sentado em um dos sofás que há lá dentro e pediu para sentarmos também.
No início ele se mostrou compreensivo, como se estivesse nos prestando ajuda... Fez-nos diversas perguntas e tudo bem calmamente. Enfim, ele sabe que há algo por trás das nossas conversas, ele disse que ele vai descobrir e mandou-nos avisar para você tomar cuidado.
Michael passou a mão sobre o rosto, depois respondeu:
-Não sei, eu ainda não descobri o que esse homem quer. Mas nós não podemos dar bandeira, isto é certo. Mas e o T-Bag?O que vocês sabem dele?
Bellick se aproximou mais de Michael e respondeu:
-Michael se esse cara entrar no nosso caminho, vai dar tudo errado novamente, você sabe muito bem o que aconteceu em todas as outras vezes.
Michael lhe lançou um olhar de reprovação.
-Pois é, eu também me lembro muito bem que das últimas vezes você também me rendeu alguns problemas. Se quer mesmo sair de Sona não diga que T-Bag tem toda a parcela de culpa.
Bellick sustentou o olhar no de Michael e Charlie e Whistler os observavam. Antes que qualquer um pudesse falar, ouviram os passos rápidos de Chuck no início do corredor.
Ele parou ao lado de Michael, que o olhou assustado. Antes que ele pudesse perguntar o que houve, Chuck disse:
-Acho melhor irmos... Vocês não vão querer ficar aqui para ver o que acontece.
Michael lançou um olhar que mesclava repreensão e medo, depois disse:
-Ok, vamos lá.
Charlie, Bellick e Whistler se encaminharam à porta e logo atrás Michael e Chuck fizeram o mesmo.
Michael esperou todos entrarem e fechou a porta ás suas costas. Tateou o chão á procura das pás, depois de pegá-las, distribuiu aos outros. E juntos eles caminharam ao seu destino.
Quando se aproximaram dos destroços do caminho da direita – que Michael julgou ser o mais seguro – largaram as pás sob o chão.
-Todos sabem o que fazer, certo? Passamos todos esses destroços para chão e logo começamos a cavar para cima... Sempre com o cuidado para que não desmorone.
Todos consentiram, e começaram o trabalho árduo.
Trabalharam a tarde toda. Mas ao fim conseguiram se livrar de todos os destroços e então, Michael os comunicou:
-Amanhã, aqui, mesmo horário. Teremos que trabalhar duro e sempre terá que haver alguém aqui nos próximos dias, para cuidar para que nada desabe. De acordo?
Todos concordaram com ele.



Quando voltaram para cela, Chuck ofereceu a comida que conseguiu. Eles comeram em silêncio, logo Chuck caiu de sono ao seu lado. Depois de cavarem a tarde toda, ele não esperava outra coisa. Lentamente, Michael o colocou na cama. Logo, resolveu dar uma caminhada.
Sentia-se vazio, como se muito mais que a vida lhe tivesse sido arrancada. Claro que ainda pensava em seu sobrinho e em tudo o que ele e Lincoln representavam para ele. Mas e se tudo desse certo? E se ele salvasse a todos? O que restaria para ele no fim? Quando a mulher que amava fora arrancada de si da maneira mais cruel que existe? No fim... Restar-lhe-ia dignidade? Ele não sabia dizer, estava perdido na sua própria confusão. Não sabia mais se ele era digno de algo ou de alguém.
Sentiu algo tocar-lhe o ombro. Levantou os olhos: era Mahone.




-Não diga nada. – ele pediu. – Por favor, apenas tente me ouvir.
Michael não sabia o que fazer, então resolveu dar uma chance a Mahone.
Mahone, baixou os olhos pensativo... Então começou a falar:
-Estou a alguns dias limpo, não sei exatamente como consegui... Talvez esse lugar tenha feito algum bem a mim. Estou me mantendo longe da confusão e tentando sobreviver.
Ele deu uma pausa.
-Não quero pedir gratidão, nem perdão... Só quero que você saiba que eu me arrependo de muitas coisas que fiz. Inclusive a você. Eu sei o quão bom você é, Michael. E quando penso no mal que lhe causei, quando penso no mal que eu causei a mim mesmo quando lhe prejudiquei... Penso que foram poucas vezes na vida que me portei com justiça. Essa justiça que a gente vive procurando... Essa justiça que faria bem a todos.
Os dois passaram um longo momento em silêncio. Mahone parecia ainda absorto em sua culpa, Michael parecia absorver aquela confissão toda. De certa forma, o perdão que Mahone não exigia parecia já estar encaminhado no coração dele. E de uma forma muito estranha, os dois estavam mais conectados do que em qualquer outro momento já vivido entre eles.
-Eu soube sobre a Sara... – Mahone olhava ao longe.
-Às vezes é como se essas paredes falassem... – Michael disse.
-Talvez elas falem sim, e talvez a dor das pessoas fale mais alto aqui também.
Michael consentiu. Sentindo aquela dor lhe cutucar, como se estivesse lhe avisando o quão viva ela ainda era dentro dele.
-Michael, quero lhe pedir algo...
Michael consentiu, esperando.
-Eu sei sobre a fuga, não vou contar a ninguém, nem mesmo à Lechero e não quero que pense que eu vim até você só para pedir isso, mas eu não preciso lhe dizer o motivo pelo qual eu quero sair daqui. Ainda existe uma família a quem eu devo proteger.
Eles nutriram um olhar longo. Michael não sabia o que dizer, apesar de tudo não sabia se já era tempo de confiar em Mahone. Respirou fundo e lhe disse:
-Se eu lhe pedisse tempo para pensar, estaria agindo errado?




Mahone riu descontente. Mas consentiu.
-Só não demore muito, não quero perder o último trem de volta para casa.
Os dois compartilharam uma risada. E depois observaram juntos o correio do dia chegar. As pessoas circularam o homem responsável pelas entregas. Vindo do corredor contrário ao que os dois estavam, Michael viu Whistler se aproximar, pegar uma correspondência e vagar para outros lados. Poderia não ser nada, mas Michael jurou que aquilo lhe renderia problemas no futuro.




Lincoln dava passos formando pequenos círculos onde estava. Olhava de tempos em tempos para o relógio, tinha consciência do quanto Sucre estava atrasado para o encontro que eles marcaram. Pensou algumas vezes se por acaso ele não ouvira o lugar errado pelo telefone, mas depois de retomar na mente diversas vezes a conversa que tiveram, ele desistia de pensar que errara na informação. Foi então que ele deixou de esperar.
Seu carro estava do outro lado da praça, então Lincoln atravessou-a a pé. Quando dobrou a esquerda, avistou uma mulher sentada no banco, em frente a um pequeno supermercado. Observou-a e então teve a certeza: era Sofia. Foi inevitável não se aproximar.
Caminhou lentamente em sua direção... Vestia um vestido azul claro, com flores de estampa. E um par de rasteirinhas. Seus cotovelos estavam sob os joelhos e suas mãos escondendo o rosto, que parecia um pouco inchado.
Sentou-se ao seu lado quase sem fazer barulho e tocou seu ombro. Ela levantou o rosto rapidamente: sem dúvida ela havia chorado.
-Lincoln! – ela exclamou num gemido.
-O que houve? – Lincoln a questionou.
Sofia descreveu a sua última visita a Whistler em Sona.




-E ele tinha esse livro... Eu não sei de mais nada, Linc! Quanto mais eu penso, mas vejo que não há verdades nas histórias que ele me conta.
-E o livro, o que ele disse sobre isso?
-Ele disse que aquilo que nos salvaria... Disse que teria de entregar livro às pessoas que querem que Michael o tire de lá e que depois disso estaríamos em paz.
Ela suspirou e continuou:
-Não sei quanto a você, Lincoln, mas eu não vejo como estar em paz depois disso tudo. Em pensar que eu confiei o meu futuro aquele homem... Em pensar que ele me prometeu tanto. Ele me prometeu que me levaria a Paris você sabia? E agora? Só mentiras.
Mas basta! Acabou.
Lincoln deixou suas lágrimas caírem e afagou seu cabelo. Não havia mais o que fazer, ou o que dizer. Apenas a consolou e, no seu íntimo, torceu para que ela um dia o esquecesse.