terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Prison Break {Capítulo 03x13}


Prison Break
3º Temporada


Capítulo 13
A notícia

Michael passara aquela noite em claro. Por várias vezes tentou fechar os olhos e se concentrar, mas os pensamentos sobre a fuga e sobre Sara e L. J. o distraiam e o pouco sono que tinha deixava de existir.
Aos poucos, ele presenciava o dia amanhecer. Aquela névoa comum nas primeiras horas da manhã do Panamá começava a dispersar e dar lugar ao sol penetrante e quente capaz de queimar qualquer pele por mais forte que fosse. Ele observou por um momento os guardas da noite trocar a guarda com os de dia e esperou que aquilo fizesse alguma diferença em sua fuga.
Desceu do beliche, pegou a camisa azul escuro que Lincoln havia comprado para ele e saiu da cela.
O pátio estava vazio por àquela hora, caminhou e foi até a torneira. Olhou para os lados, viu que ninguém estava por perto, então retirou a camiseta velha e surrada de seu corpo e lavou-se. Enquanto deixava escorrer a água pelos seus braços e as demais partes, observou as próprias tatuagens, lembrou o trabalho e o dinheiro que elas lhe custaram. E agora que ele as olhava, via que elas eram quase inúteis, mas por outro lado elas representavam algo muito significativo na história de sua vida.


Desviou seus pensamentos e fechou a torneira. Vestiu a camiseta limpa e segurou a outra na mão – nunca saberia se um ele precisaria dela.
Caminhou de volta a cela. Chuck já estava acordado.
-Bom dia.
-Bom dia, Mike.
Michael deu alguns passos e sentou-se ao seu lado. Chuck olhava para os pés concentrado. Ele demorou-se por um longo momento em seus pensamentos. De repente exclamou entusiasmado:
-Mal posso esperar para a gente começar a trabalhar!
Michael riu.
-Pois é, eu também.
-E Lincoln vem hoje?
Michael abaixou a cabeça e olhou as horas no relógio que estava em seu pulso. E depois respondeu:
-Vem daqui a pouco. Não mais que meia hora, eu acho. – Michael suspirou – Eu vou indo lá, vou falar com Sucre antes de Linc chegar. Se Bellick, Whistler ou Charlie perguntarem por mim, diz que você não sabe onde estou e se eles quiserem saber qualquer outra coisa que você ache que eles não devem saber, dê um jeito e enrole eles.
-Eu cuido disso.
Michael concordou balançando a cabeça e saiu da cela. Atravessou o pátio e foi até as grades. Aproximou-se delas e olhou ao longe: Sucre estava sentado em um banquinho com seu macacão de trabalho bebendo água em uma garrafinha. Ele viu o exato momento em que o amigo o enxergou ali parado esperando por sua presença.
De um movimento só, Michael o viu se levantar, fechar a garrafa e a colocar ao lado do banquinho. Logo depois os dois já estavam encarando um ao outro.



-Michael.
-Sucre.
Deram as mãos entre as grades e começaram a conversar. Sucre perguntou:
-Como está tudo aí dentro?
-Mais ou menos, Sucre.
Michael respirou ansiosamente e então lhe contou:
-As coisas estão como eu esperava até agora. Todos estão cooperando e logo começaremos a cavar. Depois do túnel tem um escoamento, vamos caminhar e no fim dele cavamos. Depois que nós começarmos a cavar virei falar mais seguido com você, para não termos perigo de acharmos a superfície num dia em que você não esteja por perto para tapar o buraco com as lonas e com os corpos. Então...Eu quero saber se está tudo certo ainda?Você tem certeza que quer fazer?
-Michael, corta esse papo, isso já é muito desnecessário a essa altura. Eu farei e nada vai mudar isso.
Michael sorriu-lhe. Era incrível a ligação dos dois. Nenhum outro poderia ser comparado a Sucre, nem mesmo Chuck que ele já amava de certa forma como o filho que ele ainda poderia vir a ter, se comparava aquilo. Michael percebeu sua preocupação e tratou logo de lhe contar o que devia.
-Eu... Não consegui arrancar nada de Bellick além do que já sabemos. Mas ele me garantiu que os dois estão bem. Bom, e eu o lembrei o motivo por estar ajudando-o.
Sucre bateu com as mãos na grade que os separava.
-Isso está me enfurecendo, Michael.
Michael tentou acalmá-lo.
-Hey, isso vai dar certo... Já não deu uma vez?Então... Agora não vai ser diferente.
Sucre silenciou; concentrado em pensamentos próprios. Michael não o perturbou e esperou que ele recomeçasse a falar.
Ele fitou seu rosto, então perguntou ansiosamente:
-Sara e L. J.?
Michael o olhou sério e silenciou por alguns segundos também, antes de desviar o olhar e respondê-lo:
-Até onde eu sei estão bem. Lincoln trará novas notícias hoje.
Sucre consentiu. Viu Michael sorrir para ele, antes de olhar ao longe e expressar:
-Acho que ele vem chegando.



Sucre olhou sobre o ombro. Avistou Lincoln também, então virou-se para cumprimentá-lo:
-E aí, cara? – Sucre aproximou-se abraçando-o.
-Como vai, Sucre? – Lincoln retribui o abraço.
-Ah, você sabe. Nem tão mal quanto você, nem tão bem quanto ninguém.
Lincoln achou engraçado e riu. Houve um momento de silêncio novamente, durante o qual Michael observou Lincoln: ele estava quase tão igual quanto o outro dia. O mesmo peso nos olhos, o mesmo cansaço. E Michael ainda tinha aquela mesma impressão de que algo estava acontecendo e ele desconhecia isto. Enquanto os dois irmãos estavam absortos em um olhar nervoso, Sucre quebrou o estranho silêncio ao dizer:
-Pessoal, não posso ficar muito tempo aqui, se eu deixo de ser coveiro, adeus ajuda, adeus fuga.
Michael consentiu sorrindo. Lincoln permaneceu em sua mesma postura imóvel.
-Bom, eu tenho tido muito tempo para pensar aqui dentro. Eu planejei muitas coisas em minha cabeça, mas eu quero que vocês estejam conscientes de que desta vez a probabilidade de que isso não dê certo é muito maior. Mas eu sei que com a ajuda de todos, não tem porque não funcionar.
Michael respirou e continuou:
-A princípio, sairemos daqui à noite, por volta das nove horas. No dia que terminarmos de cavar você, Sucre, irá cobrir o buraco como combinamos, para que a noite nós possamos sair. Eu estava observando esses dias e reparei que os guardas desse turno saem às 10 horas e depois os próximos ficam durante toda a madrugada. Isso significa que teremos que fazer tudo em uma hora. Você, Sucre, ficará aqui até às 10 horas, como sempre, para que não haja suspeitas. Eu, Chuck, Bellick, Charlie e Whistler sairemos e encontraremos Linc na estrada. Então lá, nós seguraremos Bellick até que Sucre apareça. Acho que é isto...
Sucre apenas disse que entendera tudo. Lincoln perguntou:
-E sobre L. J. e Sara?Quando iremos buscá-los?
-Iremos nos separar de todos, eu, você, Charlie e Whistler. Iremos para o hotel, de preferência o seu. Porque assim, ninguém ficará sabendo do que você alugou a pouco. Lá conversaremos e vamos ver o que faremos.
Lincoln concordou. E Sucre exclamou:
-Eu posso ajudá-los depois que encontrar a Maricruz.
Lincoln e Michael o agradeceram sem expressar se iriam aceitar a ajuda ou não. Michael sabia que quanto mais Sucre e sua família se afastassem, mais seguram estariam.
Michael desviou o olhar de Sucre e concentrou-se em Lincoln.
-Ligou para Susan?Você disse que queríamos mais fotos?
-Não liguei e não pedi mais fotos.
Michael o olhou desnorteado.
-Como?Vocês não se encontrarão essa tarde?
-Sim, nos encontraremos essa tarde.
Alguma coisa dentro de Michael o fez sentir-se mal de repente, ao ouvir aquilo. Ele respirou fundo e mais sério do que de costume perguntou:
-Então por que você não ligou?Por que não pediu mais fotos?
Lincoln sentiu uma gota de suor escorrer de sua testa e descer lentamente até o pescoço, lhe produzindo arrepios. A mentira não podia mais continuar, o medo começava a tomar conta dele de uma maneira agonizante. Virou-se para Sucre, que estava ao seu lado, observando-o com as mesmas indagações que o irmão. Então pediu calmamente:
-Você pode nos deixar sozinhos, Sucre?
Sucre surpreendeu-se com o pedido, mas concordou. Ele olhou para Michael dizendo:
-Obrigada, Michael. Conversamos outro dia. – ele virou-se. – Tchau, Linc.



Sucre saiu em silêncio. Michael perguntou:
-Por que ele não podia ouvir?
Lincoln enxergou uma profunda tristeza e preocupação no rosto de Michael. Sua expressão também se preocupou e tentou lhe responder, mas parecia que as palavras estavam enterradas em sua garganta.
-Linc, por que você não pediu as fotos?Por que não?
Michael sentiu medo, muito medo da resposta que veria a seguir.
-Michael, eu não sei como te dizer isso!
Lincoln calou-se. Michael continuava ali parado ali, olhando-o. Aquele silêncio sufocando-o cada vez mais.
Lincoln suspirou, fechando os olhos com desespero respondeu-lhe:
-Ela está morta, Michael.




Michael não sabia dizer exatamente o que sentiu naquela hora. Seus olhos nublaram e seu coração ligeiramente apertou-se dentro do peito. Tentou olhar para Lincoln como se ele fosse lhe dizer que aquilo que ouvira a pouco não era verdade. Mas ao invés disso, Michael ouviu as palavras atropeladas do irmão:
-Eu sinto muito, Michael. Por isso, por ter mentido para você também. Mas eu não podia ter contado antes. Se você não sair daí logo, eles vão matar L. J. também!
Ao ouvir aquilo, Michael tentou falar, mas qualquer coisa que ele quisesse dizer, não conseguiu. Sua garganta secou e o som não saiu. Só sabia dizer que alguém muito ruim havia tirado a vida da coisa que ele mais se importava no mundo inteiro e Lincoln nem ao menos se interessara em lhe contar a verdade.
Ele olhou bem dentro dos olhos do irmão, mais uma última vez. E Lincoln viu a tristeza imensa que havia nos olhos dele. Dando meia volta, sem falar nada, Michael começou a andar em direção ao pátio de Sona.
Lincoln continuou ali com o seu sentimento de culpa dentro do peito e tentou pedir a Michael que continuasse com a fuga:
-Michael você tem que fazer isso!Pelo L. J!Você tem que fazer!
Lincoln continuou gritando, mas era inútil, Michael já não escutava mais nenhum som que havia a sua volta. Todos os seus sentidos pareciam não mais exercer a função que deviam. A cada passo aquela dor insuportável começava a tomar conta dele. Caminhou sem olhar para trás e quando deu por conta, havia chegado à parte vazia de Sona, onde havia a porta que dava acesso ao esgoto.
Pensamentos perturbadores começaram a invadir a sua mente: como aquilo acontecera? O que fizeram com ela?Com a criatura mais amável que já conhecera...?
Aquela estranha sensação de que talvez ele nunca mais a veria passou rapidamente pela sua cabeça. Lembrou-se de mil coisas em milésimos de segundos. Aquele rosto delicado, aquela pele macia, aquelas mãos ternas e aqueles lábios doces: nunca mais ele provaria mais nada daquilo.
De repente, como ele jamais se sentira na vida, um ódio incontrolável e uma raiva pedindo para se libertar o tomaram. Rapidamente suas mãos acharam uma caixa de madeira qualquer que havia ali naquele corredor deserto. E com toda a força, ódio e raiva que restavam em seu corpo atirou-a contra a parede muitas vezes, até não sobrar quase nenhum vestígio.
Ele parou onde estava e respirou fundo e junto com isso lágrimas sufocantes escorreram pelo seu rosto. Levou as mãos ao bolso e retirou a foto de Sara – com ela nas mãos as lágrimas aumentavam mais ainda. A dor e o próprio choro o controlavam agora.
Em pensar que talvez ele nunca mais veria aqueles olhos – olhos perturbadores e ao mesmo tempo profundos e misteriosos – se tornava tão difícil de chorar.
Ela viveu em sua vida e todas as vezes que estava por perto tudo era incrivelmente calmo; ela alcançou a sua alma e o fez perceber que ele podia ter mais fé e coragem do que um dia ele pensou que teria.
O cansaço tomou conta de seu corpo e ele recostou-se na parede e chorou. Chorava, gritava e soluçava ao mesmo tempo. Por que Deus estava sendo tão cruel com ele a ponto de tirar-lhe a única mulher que ele realmente amara?!A única mulher que fizera o que nenhuma outra fez, a única que fez Michael renascer: aquela que o trouxe de um mundo muito distante e lhe apresentou a vida novamente.